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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

São Paulo, meu amor

São Paulo, meu amor

Por Humberto Lima


"[... Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra afogada
Em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu...]"

Não existe amor em SP - Criolo

Sim eu sei, declarar amor a uma cidade é uma coisa estranha, porém o farei.
Fundada como vila em 1554, com toda a certeza não imaginava que se tornaria essa mega cidade com mais de 12 milhões de habitantes.
Os caminhos que levaram, tortuosamente, essa pequena cidade afastada do litoral a se tornar a mais rica do país são repletos de acasos, onde podemos destacar o ciclo do Ouro em Minas Gerais que aumentou fluxo populacional e econômico, quebrando a hegemonia do Nordeste. Posteriormente temos o ciclo do Café, que consolidou o poder político revezado entre São Paulo e Minas Gerais por um longo tempo.
A libertação dos escravos e a consequente necessidade de mão de obra que veio ser de origem Europeia, tirou São Paulo de um status agrário para o de uma cidade moderna e cosmopolita, tornando-a no polo social e econômico do Estado.
Declamada em verso e contada em prosa, é um personagem muitas vezes cruel intransigente com seus habitantes. São Paulo é uma mãe, que ama e odeia seus filhos igualmente.
Caetano a cantou em seus lindos versos "Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga com Avenida São João...” e Adoniran também a imortalizou em seus versos "Não posso ficar mais nem um minuto com você, sinto muito amor, mas não pode ser. Moro em Jaçanã...”.
Poetas de todos os tempos falam de São Paulo com loucura e afeto. Como Mário de Andrade, que a chamava de "Paulicéia desvairada", e Paulo Bonfim, que assim a definiu: "pelo crime de seres boa, pelo pecado de tua grandeza, pela loucura de teu progresso, pela chama de tua história - eu te amo São Paulo".
Mas nem tudo na cidade é beleza. Sua grandeza equivale a sua loucura.
Em Carolina de Jesus, cuja vida na favela do Canindé deu origem a "Quarto de despejo", onde enxergamos a face perversa da Capital e mostra que fome e a maldade prevalece. Não existe beleza lírica que a salve.
Poderíamos mostrar infinitos autores que amam e odeiam São Paulo com a mesma intensidade.
Caótica.
Instável.
Indiferente.
O personagem do meu livro, Saturno, um vampiro índio, transformado enquanto a cidade era jovem, fez dela seu ninho, de onde suga o sangue ainda quente que é o alimento para sua vida eterna. O primeiro arco faz referência ao surgimento dele, o que abrange o período de 1570 a 1890, mesclando mitologia indígena e fatos históricos em um pesadelo cujas bases oníricas farão você duvidar a todo tempo sobre o que é real e o que é imaginário.
Não se esqueça de São Paulo.Ela certamente se lembra de você.

"Pensar enlouquece, pense nisso".


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