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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Expressões Literárias na poética de Ryane Leão





Por Jacqueline O. Conceição



Escrever sobre um livro que nos marcou não é tarefa fácil. Antes. Torna-se imprescindível digerir o texto e posteriormente maturá-lo. Esse processo de amadurecimento é demorado. No entanto, necessário para que assim o leitor possa converger os assuntos lidos. Todorov em seu brilhante texto em que revela A Literatura em Perigo, nos dá um puxão de orelha ao permitir que lêssemos:

“A literatura não nasce no vazio, mas no centro de um conjunto de discursos vivos, compartilhando com eles características”. E é exatamente dessa forma que devemos nos voltar para as produções literárias. Especialmente aquelas contadas por mulheres negras.

A leitura,exige um planejamento constante e uma postura no olhar que nos direciona para um caminho rumo à libertação de tudo aquilo que amarra a nós mesmos. É dessa forma, ou melhor, uma das formas que encontrei, para significar a poesia de Ryane Leão. Uma coletânea de textos de pujança que vão, a cada leitura, inscrevendo existências em nossa mente ao provocar, aquilo que chamo, de starts em nosso Orí.

Sua escrita é marcada por versos que mais parecem prosas. Cada frase é densa e única, e somada formam estrofes de redenção, luta e amor. Da mesma maneira em que complementa o título de sua obra “Tudo Nela Brilha e Queima – Poemas de Luta e Amor”.


A sua poesia revela engajamento, comprometimento e ternura. Há momentos em que é revelada por uma face de pedra. Sim. É possível encontrar temáticas, como: as da espera, do abandono, do tornar-se negra, do resgate de autoconfiança, da autoestima e de uma (re)existência que só é possível quando se aprender a ser passarinha e voar. São textos assim que chamo de poéticas de catapulta. Convocam as subjetividades de outras mulheres negras à guerra no lugar de ancorarem seus navios. São escritas de violento choque de realidades indispensáveis a nós.
Em,

“nem todo mundo vai compreender
Isso tudo que você é
O que não significa
Que você deva se esconder
Ou se calar

O mundo tem medo
De mulheres extraordinárias”
(Tudo Nela Brilha e Queima – Poemas de Luta e Amor)

A autora precisamente outorga outras mulheres negras da culpa trazendo isenções ao dizer que “o mundo tem medo de mulheres extraordinárias”. Ela convoca interioridades a não temerem cada parte que constitui as muitas mulheres existentes em uma única. Enfatiza uma ausência de compreensão do universo feminino comum em diversas pessoas nas sociedades patriarcais e autoriza mulheres a se verem com toda a plenitude de que conquistaram.

Ao percorrer as leves páginas de seu livro. Ryane com um chamamento nos prende a atenção:

“não romantize
O que te rasga
O peito”

Um poema-memória repleto de realismos e contemporaneidades. Ela entende perfeitamente que muitas mulheres canalizam energias desnecessárias e investem em relacionamentos abusivos. Ao trecho, a leitura pontual navega no campo dos traumas transgeracionais.

Em


“Ela só ama
Onde encontra alma
Nas coisas”


Podemos ver um outro lado de sua produção poética. Encontramos ternura, amor e paixão pela vida. Mas, e, sobretudo pelo viver. A estética literária desse conjunto de poemas constitui-se por chamas espalhadas pelos ventos de uma filha de Òyá. Nem sempre a poesia é búfalo. Ryane nos mostra que ela pode ser amor na medida em que amamos a nós mesmos.



Tudo Nela Brilha e Queima – Poemas de Luta e Amor é o prenúncio perfeito, o aviso imediato do quão metafórico podem ser as experiências narradas por uma mulher. É o sinal laranja do semáforo literário na indicação de cuidado! Aqui há fogo! Porém, também há amor. São intersecções a serem definidas pelas retinas de quem olha. A poética-prosa de Ryane é rasura em ebulição. Ou você se queima. Ou você ama. Sua escrita não negocia meios termos. Ela soma os pedaços e se constrói inteira. Assim como o seu livro: um bálsamo que nos faz pular para dentro de nossos precipícios sabendo que leituras como essas sempre irão nos salvar.





Jacqueline Oliveira é mulher de àse e possui graduação em Letras Clássicas pela UFRJ e especialização em Mediação Escolar e Comunitária pela UFF. É pesquisadora da Literatura de Paulina Chiziane e da Literatura Afro-Brasileira de autoria negr feminina, professora de Língua Portuguesa na rede privada de ensino. Escritora com co-autoria nas antologias [sobre]viver, Resistir e Lutar, do coletivo ALEPA (texto que rendeu 1º lugar no gênero contos em 2018); Vértice: escritas negras, Ed. Malê (2019), Antologia Brasileira de Prosa e Poesia, Ed. Sol Além Mar (2017),  Finalista do IV Prêmio de Literatura Nacional de Belford Roxo, ocupando o 2º lugar no gênero poesia; (RE)existência, Ed. Cartola (2020); Narrativas de Mulheres Negras, Ed. Conexão 7 (2020). Atualmente cursa Pedagogia na Universidade do Norte Paraná (UNOPAR) e é colunista da revista África e Africanidades.


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