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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Colunas Literárias: As dificuldades de construção do suspense – Conflitos psicológicos

As dificuldades de construção do suspense – Conflitos psicológicos


Por Alice Maulaz

Esta coluna será sobre minha percepção com relação ao desenvolvimento de conflitos psicológicos em contos, pois é o gênero textual que mais trabalho atualmente, mas não é nenhuma regra, justamente porque ao trabalhar com teoria literária, lidamos mais com variáveis do que exatamente uma fórmula. 

Cada autor possui seu processo de construção de personagem que pode envolver uma escrita livre sem planejamento, um brainstorming simples de ideias, até uma construção minuciosa de atitudes de um personagem e como ele reage com o cenário e a percepção do todo, o terceiro processo é mais comum em romances, pois pode ser tratado ao longo dos capítulos, o que não acontece no gênero conto.
No gênero conto, em especial, é preciso direcionarmos o psicológico do personagem de acordo com a reação que queremos causar com a mensagem principal do texto. Todo conto precisa dessa mensagem definida desde o começo.

Tendo como um grande exemplo de autor que usa o suspense como mensagem e que foi o pai do gênero conto de terror, Edgar Allan Poe, teve muitos contos publicados em um jornal da época. Sobre um conto em específico, "O barril de Amontillado", o autor trabalha o sentimento de culpa do personagem principal, Montresor, sobre a vingança contra Fortunato. O personagem, inclusive, tenta se autojustificar para o leitor no início da narrativa, bem descrita no trecho abaixo:

Deve ficar claro que, nem pela palavra, nem pelo ato, dei a Fortunato motivo para duvidar da minha boa vontade. Continuei, como de costume, a sorrir para ele, e ele não percebeu que meu sorriso, agora, vinha da ideia de sua imolação.
Essa construção é complexa e cada palavra é calculada para causar este efeito de culpa versus ação, confundindo a cabeça do leitor e criando o clima de suspense. Esse, provoca o desejo pela leitura contínua e de buscas por respostas para as questões que são levantadas durante a narrativa. O mais importante desse processo é constatar que estas respostas tão esperadas pelo leitor muitas das vezes se tornam explicações além do racionalismo humano.

Além disso, a construção psicológica precisa ser perfeitamente falha, como nós, humanos. A quebra de expectativa é um gatilho e uma possibilidade que pode ser feita no final da narrativa assim como a surpresa, depende muito do objetivo da mensagem de cada conto. 

Eu, Alice, gosto de trabalhar com a quebra de expectativa do leitor com relação ao personagem através do diálogo direto personagem-leitor. Existem autores que gostam desta proximidade e outros não, mas esse tipo de diálogo torna o personagem mais humanizado, necessário para os contos que possuem um número de caracteres específico para cativar o leitor, é como se tivéssemos menos tempo para construir uma relação, tornando o processo ainda mais desafiador.

Por fim, esta forma fantástica de passar a verdade para o leitor é interessante porque os fatos descritos nesse gênero não precisam ser verdadeiros. A mensagem deve ser realista, mas não necessariamente composta de fatos, perdendo assim o limite imposto pelo conflito entre a realidade e a ficção.

Escrever é algo incrível. É inspirador e libertador, e estudar isso é algo que transborda tanto quem escreve quanto quem lê. Costumo dizer que escrever é o que me deixa repleta e realizada. Termino esta coluna com uma frase de Poe sobre o poder complexo das palavras: “As palavras não têm poder de impressionar a mente sem o belo horror de sua realidade.”


Encontre a autora em:

Facebook: Alice Maulaz
Insta: @alicemaulaz

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