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domingo, 28 de junho de 2020

LGBTQIA+: novas formas de revolução, por Kenny Teschiedel



Em 28 de junho 1969, a Revolta de Stonewall entraria para a história como um marco efetivo para o rompimento das humilhações e a busca por direitos da comunidade LGBTQIA+. Cansados das constantes agressões sofridas por policiais em um bar de Nova Iorque, localizado às sombras da sociedade, jovens homossexuais resolveram impor seu grito de basta e revidar, em busca da liberdade em existir. Mesmo com algumas   prisões   e   do   estabelecimento   ter   ficado   completamente   destruído,   o   dia seguinte ao episódio forçou que os jovens se concentrassem à rua, expondo seus afetos.



Os confrontos duraram cinco dias, quando a violência homofóbica de policiais se viu obrigada a ceder à resistência de gays, lésbicas e transexuais. Junho   de   2020,  cinquenta   anos   depois,   o mundo   vive   um   estado   atípico. Evitando aglomerações em nome da proteção pelo novo coronavírus, a tradicional Parada   do   Orgulho   LGBTQIA+   teve   de   ser   adaptada.   Sem   deixar   de   acontecer, plataformas digitais veicularam mais de oito horas de atrações, entre apresentações artísticas e debates relevantes para a comunidade. Não apenas a de seu público alvo, mas a população em geral. Com o tema “Democracia”, pensadores, artistas e militantes debateram e trouxeram à pauta, através de uma live no domingo (14). O assunto abordado pelas cores do arco-íris   questionava a sustentação deste regime governamental, tão deturpado nos dias de hoje e, claro, lançava luz à possíveis soluções.

Sem empregar a força necessária em 69, homos, trans, pans, demis, assexuados e todos os demais identificados pela sigla puderam expressar sua autenticidade em existir. Não foi preciso mais usar da violência para impor a própria liberdade. Isto porque uma parcela – ainda bastante significativa – não admitiu que toda essa gente deve conquistar seus espaços e garantir seus direitos.

Meses atrás, uma petição assinada virtualmente conseguiu sensibilizar a corte do Supremo Tribunal Federal e aprovou-se a doação de sangue por homens homossexuais que, antes da aprovação, eram impedidos de realizar a prática. A razão estaria embasada puramente em um preconceito – ou falta de informação? – de que homens que tenham se relacionado sexualmente com o mesmo gênero pudessem estar mais suscetíveis ao HIV. É sabido, no entanto, que todo sujeito que mantém práticas sexuais está sujeito ao contágio.

“Pabllo Vittar foi longe demais!”; “De novo um gay na novela?”; “Você viu que aquele ator da Globo saiu do armário?”. Em todas essas indignações, o espanto está calcado apenas no encastelamento da ignorância. Graças a conquistas de homossexuais, trans e drags, como os citados, é que a representatividade consegue atingir seu público, dialogando com ele e garantindo que suas questões também façam parte das rodas de conversa, nas mesas de bar ou nos chás das quatro.

A  literatura   nacional   também   tem   aberto   espaço   para   histórias   de   cunho homoafetivo, fomentando a luta e as conquistas. Autores  nacionais  trans, drags e homossexuais transitam entre os gêneros literários, do romance à fantasia, do drama ao policial. Os destaques nacionais são autores como Marlon Souza (sua obra “O garoto do cabelo azul” está disponível no Wattpad), Vitor Martins e seu “Um milhão de Finais Felizes”, Vinícius Grossos (“Feitos de Sol”) e Vinícius  Fernandes com “Caminho Longo”. Além destes, uma importante contribuição é a biografia da grande artista Nany People. Em “Ser Mulher não é Para Qualquer Um”, a atriz e apresentadora relata as agressões do pai, seu estranhamento com o próprio corpo, a relação fraternal com os​ irmãos, sua ascensão artística e a idolatria pela mãe. Por fim, uma indicação “técnica”.



O livro “Mãe sempre sabe?” expõe o sensível relato de uma mãe que, ao ter de lidar com a homossexualidade do filho, resolve fazer deste aprendizado um importante manifesto de conscientização a outros pais no momento mais importante da relação entre os genitores e seus filhos coloridos. Sem dúvida, a literatura é um caminho irreversível para o combate ao preconceito, porque fornece subsídios para tirar qualquer leitor da total alienação preconceituosa.

Há quem não entenda o motivo de ser usado o termo “Orgulho” para se referir ao movimento, questionando – alguns até afirmando – o mês do “Orgulho Hétero”. Infelizmente, o Brasil é o país que mais comete crimes por homofobia. Está no topo da lista. Os registros são inúmeros e cruéis. Nenhum hétero é morto por se relacionar com seu sexo oposto. E, mesmo que pareça sutil, a luta da comunidade LGBTQIA+ já não precisa   da   violência,   como   houve   em   Stonewall,   porque   denotaria   uma   falta   de inteligência absurda e, com sorte, inteligência é a base de qualquer revolução.



Biografia: Kenny Teschiedel (1992) é psicólogo e pós-graduado em Psicanálise. Membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional RS (Cadeira 46), escreve desde muito cedo. Sua carreira iniciada em 2013 conta com quatro títulos: "Toda Forma de Amor" (Ekos Ed.), "O Diário Secreto do Cavaleiro Mascarado" (2016, Editora Autografia), "A Palavra Perdida" (2019, Perensin Produções) e "O Rapto dos Dias" (2019, Grupo Editorial Hope), eleito o Melhor Drama e a Melhor Capa de 2019 pelo Prêmio Ecos da Literatura. Atualmente, dedica-se a um novo projeto, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2020: "Estúpido convite para deixar de existir" (LN Editorial).

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