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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Horror Expor: Um casal Gay na fila - Artur Laizo

Horror Expor

 - Um casal Gay na fila -

Por Artur Laizo


Eu estava parado na porta de um estande grande na Horror Expor em São Paulo e vi na fila ao lado, um casal gay, enquanto esperava sua vez para entrar naquele outro espaço vizinho e levar alguns sustos, se abraçava e se beijava loucamente. 

Primeiramente, devo dizer que não acho necessária essa demonstração de carinho em público, seja ela por qual tipo de casal seja hétero ou gay. Incomoda a quem está por perto por não saber o que falar ou por não estar fazendo o mesmo. Uma vez, eu saí com amigos e um deles deu um "amasso caprichado" na namorada na frente dos demais e ficamos todos sem saber o que fazer ou dizer. Estávamos mesmo, com "cara de tacho". 

O casal gay continuava na fila e eu de capa preta até nos pés tentava vender meus livros, anunciar meu Blog e me fazer conhecido quando um senhor me disse: 
- O senhor tem que fazer alguma coisa
- Como é, senhor? - perguntei sem lhe dar atenção.
- Ali, oh! - disse apontando com o queixo em direção à fila onde se encontravam os rapazes. 
- Como que é? - perguntei e ele não me olhava. 
- Dar um jeito ali, oh! - repetiu- se ele. 
- O senhor não é padre? Ou está vestido de padre? - Eu o encarei com meus olhos de lentes vermelhas brilhantes e lhe disse: 
- Não! Pelo contrário, eu não sou.padre - percebi que ele me olhou assustado pela primeira vez. 
- Eu sou um vampiro! Sou vampiro e sou favorável a toda forma de amor. Não sou padre - repeti, - sou bem devasso e o pecado me interessa - enfatizei pecado. 
- Eu gosto mesmo do amor livre, da "pouca-vergonha", como você diz, gosto do pecado - repeti. - E gosto dos seus pecados
- Meus pecados? - perguntou ele com dificuldade de falar. 
- Sim! Dos seus pecados escondidos. Estou vendo todos aqui - pus a mão na cabeça como se lesse a sua mente. 
- Seus pecados são maiores que o daqueles rapazes que somente se amam. O senhor ama mesmo sua esposa? Nunca a traiu? Quais são os seus pecados? 

Nesse momento eu tinha envolvido nós dois com a luz vermelha dos meus olhos e para ele não existia mais a feira imensa no Anhembi. Ele estava perdido. Não sabia o que fazer e estava quase pronto para me deixar beber de seu sangue e matá-lo ali mesmo na frente de centenas de pessoas. 

- Eu nunca beijei um homem - sussurrou ele. - Nunca! 
- Ainda dá tempo! Pare de se meter na vida dos outros.
- Eu sou um pecador - desabafou ele. 

O homem saiu andando sem voltar os olhos para trás.

Nunca mais iria usar seus preconceitos, ou quando acabasse o efeito do meu domínio sobre sua mente, voltaria a ser o mesmo preconceituoso, cheio de arrogância e falsidade? Não sei! Nunca mais vou vê-lo. Igual a esse homem idoso, muitos são os falsos moralistas que não fazem em público o que a sociedade, também preconceituosa, condenaria, mas às escondidas são devassos. Muitos são puritanos no lar e mantém relações com prostitutas e gays que satisfazem seus fetiches mais sórdidos. 
Muitos não têm coragem de assumir o desejo mais louco e sem regras porque têm conceitos e preconceitos criados pela vida atual. 

Quando olhei pra fila onde estavam os rapazes, eles já haviam entrado no estande de horror e eu os perdi de vista. Continuei de olhos vermelhos e capa preta até a hora da minha transformação em humano novamente, mas fiz muitos contatos e amigos na Horror Expor.

Foram apenas dois dias muito intensos de vampiros, bruxas, demônios, Serial Killers, assassinos cruéis que permitiu que nos divertíssemos muito. Pena que algumas pessoas, como aquele homem idoso, não se permitem achar o melhor da vida. Muitas pessoas não se permitem ser alegres, não conseguem se divertir e nem cuidar da sua própria vida.

Assim como o casal gay da fila, como tantos outros casais, gays ou não, desejo que sejam felizes. 

Será que depois da nossa conversa, aquele senhor vai beijar a boca de algum amigo? Não sei! Como não suguei seu sangue, não saberei mais encontrá-lo. Que ele seja feliz!



Arutr Laizo nasceu em Conselheiro Lafaiete,(08/11/1960). Mora em Juiz de Fora onde exerce a profissão de médico, cirurgião geral. Formado em medicina pela UFJF, fez mestrado e doutorado em cirurgia pela UFMG. É professor da Faculdade de Medicina da Universidade Presidente Antônio Carlos - FAME UNIPAC JF. Escreve desde a infância e publicou: Coisas da Noite – poesias (1997); Maloca Querida – crônicas (1998) e os romances: “É DIFÍCIL MORRER” (1999); “LEMBRANÇAS DO ORIENTE” (2003); “A FESTA DERRADEIRA” (2013) e “A MANSÃO DO RIO VERMELHO” (2016), OI, TUDO BEM? - (e-book publicado na Amazon.com.br em 2017). Participa de várias antologias como do livro Vampiro, um livro colaborativo da Editora Empireo, 50 contos de 50 autores. É presidente da LIGA DE ESCRITORES, ILUSTRADORES E AUTORES DE JUIZ DE FORA – LEIAJF.


Contatos:
Facebook: https://www.facebook.com/arturlaizoescritor/
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Um comentário:

  1. Muito legar o humor negro inserido nesse texto. Ironia ácida e gostosa. Amei.

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