Novidades!

Post Top Ad

Your Ad Spot

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

As dificuldades de construção do gênero Terror X Horror - Alice Maulaz

As dificuldades de construção do gênero
- Terror x Horror - 




Por Alice Maulaz

Esta é a segunda coluna de uma série feita especialmente para vocês, leitores da Publiquei Online, contando um pouquinho da minha análise e percepção com relação ao desenvolvimento do gênero conto, especialmente os contos de terror e suspense.

Primeiramente, para analisarmos o gênero terror ou horror, precisamos entender a história do romantismo, parte da história que ascendeu esse gênero literário, em sua fase mais sombria: Esse gênero foi desenvolvido como consequência de uma série de desilusões causadas pelas rupturas históricas em diversos âmbitos, o que levou os autores românticos a experimentar o excesso como forma de escape, vendo o mundo de forma egocêntrica e angustiante.

A fascinação pela morte, suspense e tensão que é causada por cada linha presente neste tipo de escrita, permite tanto quem está escrevendo quanto quem está lendo a ter experiências de catarse: O escritor exprime assim os próprios sentimentos presentes em uma época em que a ciência e a indústria dominavam a rotina das pessoas que ali viviam, enquanto o leitor vai identificar-se com esta representatividade. Logo, os dois universos estão participando da construção do horror e libertação mútua durante a leitura, mesmo que em processos distintos, já que ambos estão diante da certeza de não estar passando por um perigo real no universo da literatura.

Ann Radcliffe, autora do clássico "Os mistérios de Udolpho", conta um pouco sobre a diferença presente entre o terror e o horror em sua perspectiva de autora, conforme explica Silva em seu trabalho “O Horror na Literatura Gótica e Fantástica: uma breve excursão de sua gênese à sua contemporaneidade”:

Ann Radcliffe levanta que podemos fazer uma divisão primária de cada um dos gêneros dispostos, horror, então, trataria do medo em seu estado mais psicológico; o horror secreto do ser humano, o medo de olhar em baixo da cama, ou na fresta do guarda-roupa, ou, ainda, o medo de um estranho ou de um assassino serial, por exemplo. O terror, pelo contrário, trata de levar o leitor ao mundo dos monstros, das anomalias naturais e sobrenaturais, explorando o medo visceral do ser humano, do inevitável, daquilo que foge do seu conhecimento de mundo

Essa divisão entre horror e terror não precisa necessariamente ser algo estático, podendo se fundir em alguns aspectos e até se complementarem. Logo, outro ponto a ser levantado é que esses elementos podem estar presentes ao mesmo tempo em uma narrativa. Podemos, ainda, ter em um mesmo conto, tanto elementos fantásticos quanto um estado psicológico de pavor ativo, como em alguns contos de Edgar Allan Poe. Um conto que recomendo para quem gosta deste tipo de experiência é a “A queda da casa de Usher”.

Além disso, os contos também podem representar a realidade de uma sociedade, além de poder traduzir as aspirações do povo, em oposição ao poder político vivido, que por meio de uma linguagem simbólica que possui como consequência um psicológico alerta diante da mensagem formada por presentes naquele momento da história. Essa mesma linguagem simbólica é utilizada para estimular a imaginação do leitor permitindo-lhe questionar a própria realidade pós-leitura, sendo assim, esses elementos subjetivos presentes tanto nos elementos fantásticos quanto no estado de pavor presente no gênero horror são também capazes de construir aspectos realistas.

Concluindo, não poderia deixar salientar a importância da imaginação durante a construção não só desses gêneros textuais, mas em todos os outros existentes. Sem imaginação, não existe escrita criativa e a experiência de leitura pode se tornar condensada pela realidade em excesso. Ter imaginação faz parte de ser autor, leitor e artista porque, para nós, é impossível termos somente um desses três papéis.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Páginas