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sábado, 17 de agosto de 2019

Colunas Literárias: O Preconceito na Literatura

O Preconceito na Literatura

Por Mhorgana Alessandra


“Como querem mais armas? 

Quando já enterramos oito caras... 

Mais uma farda mancha uma blusa, 

É o poder de quem abusa. 



Levanta preta! 

Resiste Marielle, 

Limpem o sangue da blusa de Marcus, 

Desenterrem Eduarda, 

Saúdem Dandara! 



Bum! 

Mais um corpo preto no chão, 

Mais uma alma violentada, 

Por falta de compaixão, 

Mais uma Marielle é assassinada. 

" Quantos mais vão precisar morrer?" 



14 de março... 

O último abraço em sua mulher, 

O último aceno "salve favela"!, 

Salve-se quem puder. 

Uma bala pela janela, 

Escorre o sangue da feminista, 

Antirracista, 

Cotista! 

No batuque do tambor, 

Uma história repleta de dor. 

Na cabeça o turbante, 

Que te faz representante. 

O sonho de ver o negro estudante! 

"Mesmo negra e favelada, 

Acha que devo ser assassinada?" 

(Salve-se quem puder / Victória Manuela)


O preconceito na literatura não é muito diferente daquele que presenciamos no nosso cotidiano ou até mesmo, na apresentação das outras artes. Ainda assim, vivemos um momento de redenção e quebra de paradigmas e muitos artistas talentosos têm conseguido levantar sua bandeira e mostrar sua arte, garantindo espaços nas mídias em geral. Todavia, o preconceito persiste de forma gritante quando se trata de mulheres ou negros, seja nos poemas, nos romances ou nas narrativas em si. 

Ainda hoje, algumas pesquisas mostram que o número de publicações de negros é ainda menor do que autores brancos. O preconceito em nossa literatura começa antes mesmo de escritores negros baterem à porta de uma editora para publicar seu livro, pois a presença destes na Literatura Brasileira está relegada a um segundo plano. Ou eles não aparecem ou são retratados com predicativos que, de forma implícita ou explicita, procuram atribuir-lhes características negativas, isto é, fica evidente que consciente ou inconscientemente para alguns escritores de cor branca, os negros ainda estão na senzala, ou atuando como serviçais. 

Em O Cortiço, o mais famoso dos romances de Aluísio Azevedo, publicado em 1890, a personagem mulata Rita Baiana é retratada por sua sensualidade e em várias ocasiões, Azevedo enfatiza sua amoralidade, tendo ela seduzido o português Jerônimo. A bela, então, torna-se a causa da degeneração do mesmo, que, de um imigrante trabalhador e honesto, passa a ser um brasileiro inútil e dado a vícios. 

Machado de Assis é considerado até hoje o maior escritor brasileiro, e era epilético, gago e descendente de escravos. Nascido em 1839 no Morro do Livramento no Rio de Janeiro, viveu 69 anos, e morreu em 1908. Ele reunia vários predicativos das minorias, mas em seus escritos, ele nunca se preocupou com o problema racial e raramente tocou em questões da escravidão, cuja abolição ocorreu quando ele ainda era vivo. 


A maioria de seus romances tem por cenários as classes mais altas da burguesia do Rio. Dentre seus livros, citamos a trilogia Memórias Póstumas de Brás Cubas de 1881, Quincas Borba de 1892, e Dom Casmurro de 1900. Em sua obra, ocorrem algumas referências ao negro, mas sempre, com o autor demonstrando preocupação em atenuar os aspectos ligados à cor. Tal fato nos leva a pensar que ele, de alguma forma, evitava tocar no assunto, tão delicado para a época.

A nossa Literatura Brasileira conta com renomados escritores negros

Podemos citar grandes autores: Manuel Inácio da Silva Alvarenga, o poeta que expressou a visão do homem negro, nas poucas vezes em que comentou esse tema. Entre suas obras: O Desertar, poema herói-cômico e Glaura

Antônio Gonçalves Dias, que diluiu o tema do negro em suas obras mais conhecidas: Primeiros cantos, Segundos cantos e Sextilhas de Frei Antão e Os Timbiras

José do Patrocínio, que escreveu obras em prosa de caráter realista, nas quais evidenciou sua intenção de analisar questões sociais, como em Coqueiro ou a Pena de Morte, Os Retirantes e Pedro Espanhol

João da Cruz e Souza, que representa o ponto alto do Simbolismo brasileiro com os livros Broquéis, Missal, Faróis e Últimos sonetos

Afonso Henriques de Lima Barreto, que expôs as contradições de nosso ambiente social. Dentre suas obras podemos citar: Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Triste Fim de Policarpo Quaresma e Numa e Ninfa

Lino Guedes, que trata da assimilação dos valores da sociedade branca e entre os seus livros destacamos: O Canto do Cisne Preto e Negro Preto e Cor da Noite

Também temos que citar Solano Trindade, o autor que traz a reivindicação social do negro em busca de melhores condições de vida. Dentre suas obras, citamos Poemas d’uma Vida Simples e Cantares ao meu Povo

Ainda nessa temática, Maria Firmina dos Reis, que publicou o romance Úrsula, atribuindo aos escravos participação importante no enredo. E por fim, Carolina Maria de Jesus com Quarto de Despejo, que alcançou repercussão internacional, com caráter documental e de contestação social. Publicou ainda: Pedaços de Fome e Diário de Bitita.

Na atualidade, temos uma autora negra, que é ícone de leitores de todas as idades. Aos 71 anos, Conceição Evaristo nasceu em uma favela de Belo Horizonte e foi empregada doméstica, tem graduação, mestrado e doutorado em Letras. 

Publicou seu primeiro poema em 1990 no Cadernos Negros. Militante ativa, suas obras abordam questões raciais, de gênero e de classe. Em 2017, teve o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, publicado em inglês nos Estados Unidos e, em 2015, venceu o Prêmio Jabuti de Literatura com Olhos D'água na categoria Contos e Crônicas. Virou tema de exposição, e já foi cotada para ocupar a cadeira de número 7, na Academia Brasileira de Letras, deixada pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, mas infelizmente não foi eleita. Será que a nossa diva maior da literatura nacional atual, perdeu a cadeira para Cacá Diegues, por ser mulher e negra?


Encontre a autora em:

Facebook: Mhorgana Alessandra
Insta: @mhorganaalessandra

4 comentários:

  1. Belíssimo texto, Mhorgana, sabe que tb nunca me conformei que a Conceição Evaristo não foi eleita para a ABL, tb me pergunto se teria sido por ser mulher e negra. BJOS da Maga

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  2. Belo texto, amiga, e lindo poema da Vic.

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  3. Lindo poema e texto instigante Mhorgana!O lugar do negro é so lado dos brancos! Sempre!

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  4. Amei o texto, e não poderia ser diferente em se tratando da pessoa sensata que você é. Há paradigmas que não foram realmente quebrados e isso se reflete na falta de representação do negro hoje na literatura. Estamos em 2019 e parece que pouco evoluímos.

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