A morte na Literatura
Por Humberto Lima
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar...
Raul Seixas, Canto para minha morte.
Como diria Neil Gaiman: "a morte é o grande momento da vida".
O ser humano sempre buscou uma explicação para o que era a morte e, posteriormente, também para origem da vida. Ninguém sabe de onde viemos e para onde vamos, só sabemos que, na intermitência entre o estar do “lado de lá” e do “lado de cá,” como chamamos a vida, aqui estamos todos nós.
Os primeiros escritos sobre a morte datam de mais de cinco mil anos antes de Cristo. Foram gravados em livros sagrados como o egípcio O Livro dos Mortos, a Epopeia de Gilgamesh, o Bhagavad Gita indiano e pequenos fragmentos de textos como Popol Vuh dos Maias.
Toda a civilização explicava a morte através de alegorias.
Sejam eles gregos, africanos, os bárbaros do Norte da Europa, povos indígenas do continente americano, todos têm suas crenças e ritos que lidam com o crepúsculo do homem.
Posteriormente, com a diminuição das tradições orais e o começo da replicação da escrita ficando mais acessível para os povos, a literatura começou a tratar desse fenômeno natural, fazendo-o perder gradualmente seu caráter mágico e religioso.
Grandes escritores como Shakespeare e Cervantes imortalizaram a morte como drama.
Mary Shelley tentou transcender a morte e com isso criou a primeira grande obra de ficção científica com seu Frankenstein, o Prometeu moderno.
Com a chegada do Iluminismo e o Deus Ciência, a morte passou a ser objeto de estudo sistemático e a literatura não se deixou ser passada para trás.
O medo da morte ainda é um dos grandes motes da literatura.
Vampiros que fogem da morte através dos tempos, zumbis que enganam a morte voltando como feras acéfalas ensandecidas, pactos com criaturas diabólicas ao custo de suas almas eternas
Tudo isso apenas pelo medo do que possa existir do outro lado.
Autores imortalizam a morte e, com isso, também imortalizam seu próprio nome.
Segundo nosso músico e filosofo Raul Seixas “os homens passam, as músicas ficam” e isso pode ser ampliado para todas as artes.
Ser imortal não é só ter o nome gravado em rocha maciça como a das pirâmides, mas também viver eternamente na imaginação de nossos leitores.
E que a morte nos engrandeça com a lembrança eterna de quem nós fomos em vida!
“Pensar enlouquece, pense nisso.”
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Insta: @escritor_humbertolima
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