O Primeira Página - Conflito na Baiana, é um dos melhores livros que eu li esse ano, gostaria de começar esta resenha com este fato. Preso por fluidez na escrita e leitura cativante, coisas que esta história tem de sobra.
Clara Gabo é uma jornalista do Diário Carioca, um jornal do Rio de Janeiro, e recebe uma ligação na redação, em um dia tranquilo e com poucas notícias, e decide apurar o que está acontecendo de errado na Baiana, comunidade da Zona Norte do Rio. O autor, JM Costa, que já foi jornalista de grandes veículos, colocou boa parte das suas experiências no dia a dia de uma redação neste romance policial.
A investigação é toda feita pela jornalista, diferente de muitos livros do mesmo gênero, e traz com todo o impacto caótico e desesperador, a realidade do carioca e como os moradores de favela lidam com a violência que aplaca a rotina no morro.
O dilema que a protagonista vive a todo momento acaba por enriquecer a narrativa e fazer com que aquela famosa frase "só mais um capítulo" acabe sendo falada diversas vezes. O livro tem apenas 168 páginas, mas todas são tão intensas que quando acabam, fazem com que você olhe e se pergunte "ué, acabou?"
Um dos personagens que mais me encantou foi o dono do Morro da Baiana. Linho é um personagem muito bem desenvolvido que foge de todos os esteriótipos que os traficantes normalmente são inseridos na literatura e no cinema nacional. Me fez lembrar, em algumas partes, o traficante Playboy, que concedeu entrevista para a revista Veja e era um dos bandidos mais procurados do Rio. Além de uma história de vida fora do comum.
Indo de encontro às partes técnicas da história, a estrutura de diálogos é levemente repetitiva, me fazendo crer, em algumas vezes, parecer estar lendo um roteiro de filme, que ficaria muito bem quando fosse falado, mas não tão bom quando se é apenas lido como literatura. A irresponsabilidade da Clara, que é uma foca(termo utilizado para tratar novatos no jornalismo) atrás da manchete da sua carreira, também me preocupa por poder, em alguns casos, incentivar novos repórteres a fazerem coisas como subir uma comunidade sem o apoio da redação ou ir atrás de uma notícia sem a devida proteção.
Não é atoa que o próprio escritor, durante a sua história, lembra do caso real de Tim Lopes, jornalista morto durante a busca de uma matéria que envolvia traficante e um baile funk, que seria revelada através de uma câmera escondida em sua pochete.
Porém, esta é a realidade de muitos jornalistas. Notícias a qualquer custo, subir morro sem proteção, tentar dar um furo jornalístico a todo momento e aquela confusão de apuração que acontece diariamente. Tirando alguns ressalvas, o livro merece um parabéns!
✮✮✮✮✮
Informações técnicas:
Autor: JM Costa
Ano: 2017
Editora: (independente)
Páginas: 168
Skoob
Sinopse:
O telefone toca na mesa de uma repórter do Diário Carioca. Do outro lado, desespero. Uma garotinha de 9 anos narra, ao vivo, o crime brutal que vê pela janela de casa. A vítima é sua mãe. O diálogo tenso, a partir de então, dita o tom acelerado que acompanha o leitor do primeiro ao último capítulo de “PRIMEIRA PÁGINA – Conflito na Baiana”.
Clara Gabo, repórter carioca em início de carreira, não mede esforços para atender ao pedido de ajuda da menina que lhe procurou por telefone. Mesmo que isso signifique contrariar orientações de sua chefia e colocar a própria vida em risco.
À medida que avança na reportagem e publica seus desdobramentos na primeira página do jornal, Clara descortina uma série de fatos que podem comprometer a cúpula da segurança no Estado e até mesmo a sua carreira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário