Os grupos e páginas de literatura nacional foram atingidos essa semana por uma postagem que gerou muitos sentimentos em escritores e leitores. Um escritor de romance YA escreveu que o valor de R$40,00 por um livro não é caro, pois este é o mesmo preço de alguns lanches. Ele afirmava que a atitude de reclamar pelo valor na literatura e não na alimentação delimita que o leitor valorizaria a literatura nacional menos que um fast food.
Depois de ser muito questionado por pessoas que tentarem lhe abrir os olhos para os salários baixos pagos no Brasil atualmente, o escritor se defendeu afirmando que sua postagem nada tinha a ver com pessoas de baixa renda e sim com aqueles que têm a renda, mas escolhem não dar valor ao nosso mercado editorial. Mesmo assim a maioria das pessoas comentando concordou que sua postagem não passou o que ele queria e continuaram contrariados pelo teor do post.
Esse tipo de atitude abre espaço para uma conversa necessária: você já parou pra pensar sobre quanto custa ser leitor no Brasil?
Custa mais, muito mais do que um fast food sim, e não estou falando apenas de dinheiro. A pessoa que trabalha e precisa se sustentar, muitas vezes acordando cedo e passando boa parte do dia fora de casa, geralmente não tem tempo ou interesse em ler. Quem dirá, dinheiro para comprar livros acima da faixa dos R$20,00. Não é segredo que não vivemos em uma nação de leitores e os motivos são bem claros: o governo, historicamente, nunca se interessou em transformar a população brasileira num povo com hábito de leitura. Assim, leitores e escritores nacionais são a turma fora da curva e precisam se virar dentro do jovem mercado editorial brasileiro, o que muitas vezes ecoa em livros com preços altos.
Depois deste breve momento de reflexĂŁo, voltemos ao tema central: R$40,00 Ă© caro para um livro? Todos na redação da Publiquei sĂŁo escritores tambĂ©m e sabemos bem quanto custa fazer um livro. Entre revisĂŁo, copidesque, diagramação, projeto gráfico, design, impressĂŁo, lançamento e marketing, muito dinheiro voa. É justo querer que este dinheiro volte para nossas mĂŁos, mas Ă© sonhar alto demais achar que R$40,00 Ă© um valor praticável para um autor desconhecido num mercado razoavelmente lotado dentro de um paĂs onde o salário mĂnimo está abaixo da mĂ©dia do preço do aluguel. Ao insistir nisso, vocĂŞ basicamente afirma que o trabalhador mĂ©dio nĂŁo tem direito Ă literatura nacional. E quem Ă© vocĂŞ para decidir isso?
Isso significa que eu acho que devemos nivelar os preços para baixo? Sim, Ă© exatamente isso que eu acho. Porque quem quer ser vendido, precisa dar um jeito de se vender. Lucro, dentro da carreira literária, nĂŁo deve e realmente nunca chega no primeiro livro, ou segundo. Isso quando existe algum lucro. Nossa carreira nĂŁo Ă© como um trabalho convencional, onde já começamos recebendo o suficiente para sobreviver somente deste ofĂcio. É uma carreira artĂstica e como todos os profissionais de arte, nĂłs precisamos ter noção de que nem todo mundo conseguirá consumir nosso trabalho se nĂŁo nos esforçarmos muito pra isso. E devemos nos esforçar. Ser esforçado Ă© parte do trabalho.
Sempre defendo livros menores, tiragens mĂ©dias e projetos gráficos acessĂveis porque sei que tudo isso barateia o livro, nĂŁo apenas para o autor, mas tambĂ©m para o leitor. E, acredite em mim, estes vinte reais de lucro sĂŁo muito menos importantes do que ganhar um leitor que comprou seu livro numa promoção onde vocĂŞ recebeu mĂseros R$1,50 de direito autoral sobre a compra.
Precisamos ter noção de que o mercado nĂŁo Ă© como querĂamos que ele fosse. Reclamar nĂŁo vai mudar isso e nem melhorar nossa carreira, entĂŁo o que podemos fazer?
Trabalhar.
E trabalhar muitas vezes significa tomar prejuĂzo hoje para vender muito mais para os possĂveis leitores que vocĂŞ vai angariar amanhĂŁ. E se estes leitores nĂŁo puderem pagar R$40,00 num exemplar, eles nĂŁo valem menos do que nenhum outro.
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