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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Quanto custa a sua literatura?



Os grupos e páginas de literatura nacional foram atingidos essa semana por uma postagem que gerou muitos sentimentos em escritores e leitores. Um escritor de romance YA escreveu que o valor de R$40,00 por um livro não é caro, pois este é o mesmo preço de alguns lanches. Ele afirmava que a atitude de reclamar pelo valor na literatura e não na alimentação delimita que o leitor valorizaria a literatura nacional menos que um fast food.

Depois de ser muito questionado por pessoas que tentarem lhe abrir os olhos para os salários baixos pagos no Brasil atualmente, o escritor se defendeu afirmando que sua postagem nada tinha a ver com pessoas de baixa renda e sim com aqueles que têm a renda, mas escolhem não dar valor ao nosso mercado editorial. Mesmo assim a maioria das pessoas comentando concordou que sua postagem não passou o que ele queria e continuaram contrariados pelo teor do post.

Esse tipo de atitude abre espaço para uma conversa necessária: você já parou pra pensar sobre quanto custa ser leitor no Brasil?

Custa mais, muito mais do que um fast food sim, e não estou falando apenas de dinheiro. A pessoa que trabalha e precisa se sustentar, muitas vezes acordando cedo e passando boa parte do dia fora de casa, geralmente não tem tempo ou interesse em ler. Quem dirá, dinheiro para comprar livros acima da faixa dos R$20,00. Não é segredo que não vivemos em uma nação de leitores e os motivos são bem claros: o governo, historicamente, nunca se interessou em transformar a população brasileira num povo com hábito de leitura. Assim, leitores e escritores nacionais são a turma fora da curva e precisam se virar dentro do jovem mercado editorial brasileiro, o que muitas vezes ecoa em livros com preços altos.

Depois deste breve momento de reflexão, voltemos ao tema central: R$40,00 é caro para um livro? Todos na redação da Publiquei são escritores também e sabemos bem quanto custa fazer um livro. Entre revisão, copidesque, diagramação, projeto gráfico, design, impressão, lançamento e marketing, muito dinheiro voa. É justo querer que este dinheiro volte para nossas mãos, mas é sonhar alto demais achar que R$40,00 é um valor praticável para um autor desconhecido num mercado razoavelmente lotado dentro de um país onde o salário mínimo está abaixo da média do preço do aluguel. Ao insistir nisso, você basicamente afirma que o trabalhador médio não tem direito à literatura nacional. E quem é você para decidir isso?

Isso significa que eu acho que devemos nivelar os preços para baixo? Sim, é exatamente isso que eu acho. Porque quem quer ser vendido, precisa dar um jeito de se vender. Lucro, dentro da carreira literária, não deve e realmente nunca chega no primeiro livro, ou segundo. Isso quando existe algum lucro. Nossa carreira não é como um trabalho convencional, onde já começamos recebendo o suficiente para sobreviver somente deste ofício. É uma carreira artística e como todos os profissionais de arte, nós precisamos ter noção de que nem todo mundo conseguirá consumir nosso trabalho se não nos esforçarmos muito pra isso. E devemos nos esforçar. Ser esforçado é parte do trabalho.

Sempre defendo livros menores, tiragens médias e projetos gráficos acessíveis porque sei que tudo isso barateia o livro, não apenas para o autor, mas também para o leitor. E, acredite em mim, estes vinte reais de lucro são muito menos importantes do que ganhar um leitor que comprou seu livro numa promoção onde você recebeu míseros R$1,50 de direito autoral sobre a compra.

Precisamos ter noção de que o mercado não é como queríamos que ele fosse. Reclamar não vai mudar isso e nem melhorar nossa carreira, então o que podemos fazer?

Trabalhar.

E trabalhar muitas vezes significa tomar prejuĂ­zo hoje para vender muito mais para os possĂ­veis leitores que vocĂŞ vai angariar amanhĂŁ. E se estes leitores nĂŁo puderem pagar R$40,00 num exemplar, eles nĂŁo valem menos do que nenhum outro.

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