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quarta-feira, 6 de junho de 2018

O protagonismo negro na LER


Numa tarde inquieta, o Espaço Cesgranrio dentro da Biblioteca Parque Estadual enegreceu. Mediada pela ilustre Glória Maria, a mesa “O Protagonismo Negro nas Artes” lotou a arquibancada de negras e negros no dia 20 de maio. Os convidados mais que esperados Ruth de Souza, Milton Gonçalves, Tatiana Henrique e Conceição Evaristo foram todos aplaudidos de pé em sua entrada, causando especial comoção de quem se via representado naquele palco. O evento também contou com a presença das intelectuais Regina Dalcastagnè, Marta Abreu e Ana Maria Gonçalves.

A conversa de longa duração não apenas bateu fundo na questão do racismo dentro do mundo artístico - que é forte - como também contou com participação especial da platéia, que a todo momento respondeu, interagiu e participou dos debates. Um momento especial foi quando a atriz Tatiana Henrique ministrou uma intervenção teatral entre as pessoas ao redor para evidenciar o quanto as vozes negras são abafadas dentro da sociedade.



“Trabalho de ator é muito difícil para brancos e negros, mas para negros muitos mais”, disse Ruth de Souza, com voz embargada e lágrimas escorrendo pelo rosto ao contar sua experiência. Foi acolhida pelo amigo e também ator Milton Gonçalves, que bateu na tecla várias vezes da organização política negra: “nós brasileiros negros temos que dar um salto o mais rápido possível; somos a maioria da população desse país e nunca tivemos um presidente”. Juntos, relembraram casos sobre sua juventude trabalhando na Rede Globo, e foi a vez de Glória Maria falar sobre sua experiência. A jornalista e apresentadora confidenciou que, nos seus primeiros anos na televisão, só tinha os ombros de Ruth e Milton com quem contar, pois os colegas de trabalho a chamavam de “crioula” e faziam piadas com seu cabelo nos corredores do setor jornalístico. “Quanto mais escuro o tom da nossa pele, maior será a nossa dificuldade”, desabafou ao falar sobre representatividade na televisão. Glória reclamou sobre as tais “cotas” representativas existentes hoje, que não enganam e muito menos representam ninguém. “Quando interessa ao branco, a gente tá lá!”, finalizou.

Na sua vez de falar, Conceição Evaristo apelou que não lhe eufemizassem para lhe dar valor. “Não me retirem do meu lugar”, ordenou ao se referir ao embranquecimento cultural latente nas mídias. “Quem acredita na democracia racial ou é muito alienado ou é cínico”, disse. Também emocionada, foi aplaudida de pé novamente pelo conjunto da obra e pela candidatura à Academia Brasileira de Letras.

Ao final do evento, depois de muitas falas esclarecedoras dos convidados, as pessoas na platéia decidiram se posicionar também, abrindo ainda mais o leque de discussões. Entre as intervenções, uma senhora se levantou para contar de certo caso em seu trabalho em que viu racismo acontecendo com um colega e percebeu o quão terrível é o preterimento de uma pessoa simplesmente pelo fato de esta ser negra. Inesperadamente, foi respondida por Glória: “você viveu isso uma vez, a gente vive todo dia”.

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